Nossa viagem ao rio Formoso do Araguaia
Quando Dudu e João eram pequenos, eu tinha o costume de
contar a estória do índio Curumaré para eles. Na cama grande do nosso quarto, à
noite, era sagrado, logo depois da oração, um capitulo dessa estória que se estendeu
por muito tempo; não dormiam sem a bendita seção.
Curumaré, índio javaés, morava no Araguaia,
solitário, muito querido por duas crianças filhos de um fazendeiro da região.
Sempre que possível, as crianças montavam a cavalo e iam visitar o bom amigo;
nas férias costumavam empreender longos passeios pelas terras misteriosas dos
javaés quando aprendiam boas coisas novas.
O tempo passou, eles aprenderam a remar, e agora com
13 e 10 anos de idade chegara à hora de tornar realidade àquela estória. Começamos
a organizar a viagem.
Dudu, João, eu e Zé nosso primo, sentávamos no chão
em parelha de dois para tirar as medidas do comprimento do barco; calculávamos
que tralha era necessário para acampar 10 dias, e cubicavamos tudo; tendo as
dimensões que serviam as nossas necessidades começou o desenho do barco; para
tal, ajudou muito o “Design Iatch”. Depois de muita discussão quando todos
colaboravam, começamos a construção na oficina do Zé; o trabalho era sempre
após o expediente e ia noite adentro; algumas vezes João não agüentava e
adormecia no casco semi acabado; finalmente o barco ficou pronto, tendo um
deposito para gelo na proa; o Zé construiu uma carreta própria para ele.
Ainda me lembro das noites frias naquela oficina
aberta, o “goteirão” e os pedaços de lingüiça que assávamos num fogo de
cavacos. A boa vontade do Zé de criar coisas diferentes é fenomenal.
Eu, do meu lado, forcei a ginástica, diminui bem o
peso, ganhei forças, me preparando para o passeio. As crianças se esforçaram no
estudo para não pegarem recuperação e não atrasar a partida.
Os detalhes foram levantados, adquirimos mapas do
exercito na Pauline, uma barraca para dois, redes com mosquiteiros, munição
para a 12 e a 22, material de pesca, lampião fogareiro, enfim, nossa tralha.
Eu programei irmos ao rio Loroti e no Formoso que
são dois afluentes do Javaés braço direito do Araguaia quando este forma a ilha
de Bananal, e já meus conhecidos dos bons tempos de solteiro quando freqüentei
a fazenda Loroti cujo um dos donos era o Pilades Prata Tibery de Uberaba; tinha
feito boas amizades por lá e esperava encontrar apoio agora.
Minhas estórias que as crianças tanto ouviram eram
baseadas na vivencia própria naquela região; mas já se iam 25 anos --- .
A medida que o dia da partida se aproximava
ficávamos mais ansiosos, Joãozinho parecia que vivia sonhando; seus colegas não
entendiam como é que ele ia caçar e pescar em terra de índio.
Finalmente, no 22 de julho de 1985, as 6.30h,
partimos ao encontro da grande aventura – íamos remar uma semana nas longínquas
águas do índio Curumaré; não saímos antes, pois me baseava na lua cheia lá no
Berohokan.
Deixamos nosso Paraíba, ultrapassamos a Mantiqueira,
veio Barbacena, Belo Horizonte, e, as 15,15h reverenciamos o velho Chico em
Três Marias com toda sua imponência; agora vamos cortando os afluentes do
Paracatu – rio Santo Antonio, Sono, Prata, e finalmente o próprio Paracatu (rio
onde fiz com a turma de Valença boas caçadas de perdizes), as 18,30h, 925k
percorridos, paramos na cidade para um descanso.
Dia 23 – às 6h deixamos Paracatu alcançamos
Cristalina lugar das pedras semi preciosas onde se compra na estrada mesmo,
enfeites bem trabalhados, contornamos Brasília, veio Anápolis, e as 11,30h
chegamos em Jaraguá (onde com Fernando Sampaio visitei uma plantação de café
que deu errado; pretendiam 3 milhões de caféeiros); um almoço na churrascaria
Gaúcha com mandioca amarela, e seguimos. Bem, até aqui não era novidade, pois
eles já conheciam quando visitaram a Evelise e o Pedro em Brasília, enquanto eu
e Zé fomos pescar no rio Verdinho em Luis Alves onde meu dentista tinha um
acampamento.
Agora, de barriga cheia, viajávamos pela lendária
Belém-Brasilia, obra do desbravador Bernardo Saião. Em Ceres, onde o B. Saião
criou a primeira colônia agrícola (cidade que guardo boas recordações, pois lá
o Murilo Tibery abria a fazenda Sibéria onde cacei perdizes e pombas, e, a uns
3 kilometros da porteira uma choça de palha beirando um brejo enfeitado com
belíssimas palmeiras Indaiá, abrigava um velho com seus abacaxis fresquinhos
que devorávamos uma dúzia matando a sede provocada pelo sol a pino), cruzamos o
rio das Almas agora sem os piaus do meu tempo.
Depois, vem Jardim Paulista entrada para Nova
América (uma vez, lá entrei de jipe para reconhecer as terras do Bento Sampaio,
4000 alqueires, onde Fernando pretendia
roubar 500 alqueires desde que eu pra lá fosse afim de abrir a gleba;
beirando o Crixás Mirim, as terras eram boas, mas, o acesso impraticável; fui
mordido pelos marimbondos de chapéu e quase morri; só havia uma fazenda com
pioneiros desbravadores que construíram a estrada até lá; tem fotos; 16 pontes
de bitola para caminhão; que dificuldade!).
Uruaçu chegou, (lá o Jango tinha uma fazenda onde as
maquinas do DNER trabalhavam mais dento dela que na estrada), mais adiante
Porongatu, entrada para São Miguel e Luis Alves. As 17 25h alcançamos Alvorada,
tomamos um café, gasolina, e continuamos para Gurupi aonde chegamos às 19h,
tendo percorrido 2125k ao todo, sendo 600k na Belém-Brasilia que neste trecho
corta campos cerrados, o que podia ser monótono para as crianças se não fosse a
sensação do desconhecido.
Que surpresa! Chegamos numa avenida de pista dupla
com bancada arborizada no meio, iluminada por luz de néon, revendedoras de
maquinário agrícola, lojas diversas desde eletrodomésticos até concessionária
de automóveis. Só hotel com ar condicionado eram oito; ficamos no Palace hotel
ao lado da fabrica de moveis de estilo. Hospitais e casas de saúde são seis;
DDD, supermercado com wisky escocês.
Aquela Gurupi que eu conhecera, com um hotel que era
um corredor comprido, escuro com quartos nas laterais sem janelas e o banheiro
no fundo com uma lata de querosene furadinha por chuveiro por cima do cagador,
meia dúzia de casas de palha, poeira violenta, sem luz elétrica, aquela Gurupi
sumiu.
Paramos no posto de gasolina quando nos indicaram
este hotel, bem arejado e limpo,onde tomamos um bom banho e fomos para a
pizaria do chinez.
Fiquei emocionado! Casais jovens vestidos com roupas
leves e seus filhos, rapazes e moças de minissaia com bonitas blusas onde se
apreciava os seios sem sutiã durinhos em forma de pera, famílias inteiras de
imigrantes do sul de bermudas e abanadores – toda essa gente se refrescando com
o chope gelado, conversando alegremente ao som duma musica discreta – não era
mais as terras do índio Curumaré e do lendário Sherlock!
Este nosso querido Brasil, apesar de todas as
dificuldades impostas pelo Estado, cresce graças ao trabalho pioneiro da
iniciativa privada que, desbravando o inóspito cria cidades como Gurupi.
Durante anos, lá sempre esteve o goiano meio índio,
na sua letargia milenar, vivendo na fartura oferecida pela natureza
pródiga – proteína a vontade proveniente
das águas abençoadas do Berohokan e seus afluentes, estradas aquáticas, e tudo
para sua montaria sua moradia seus utensílios suas armas para caçar e
pescar.
A região era cortada esporadicamente por tropas que
saindo do Maranhão iam invernar na ilha do Bananal que no inverno oferecia
pastagens verdolengas. Um e outro se estabeleciam apascentando o gado nos
campos naturais. Agricultura não existia e nem era necessário devido à fartura
natural.
Com a Belém-Brasilia do magnânimo Juscelino, tudo
mudou. Agora, as lavouras de arroz e soja cobrem o chão antes pasto de
capivaras e veados campeiros; o progresso chegou graças aos Sherlock e depois
ao povo de olhos azuis que lá do sul vieram para se fixar. Lado a lado com
as grandes empresas 80 000 famílias subiram com sogra, cachorro,
tralha, um pouco de moedas e muita vontade de trabalhar e vencer para ser
recompensado pela riqueza.
Uma senhora na fazenda Barra Longa contou, que
quando chegaram e, antes de tudo fizeram a horta com verduras e legumes, o
pomar, a roça variada, cuidaram da porcada, galinhas, patos e galinholas, vacas leiteiras, os
goianos riam deles pilheriando que chegaram com fome; hoje os goianos, vendo o
fruto de tanto trabalho, invejam tamanha fartura, mas continuam a viver de
peixe salgado e farinha grossa.
A igreja católica mancomunada com os comunistas
levou o caos para o campo, porem aqueles que realmente sabem o quanto custou a
colonização, fundaram a UDR e não permitirão o descalabro. A estória do
Sherlock exemplifica bem a historia
daqueles que realmente tem o direito á terra.
Dia seguinte, 24, fui papear com o gerente do hotel;
me contou que só ali chegam em media seis famílias por dia com mudança
completa; chegam para ficar, chegam para trabalhar, produzir e prosperar,
construir o futuro de seus filhos. È a cidade nascendo!
Na sala do café matinal, fiquei de ouvido alerta;
numa mesa em frente, uma família com ar de já ambientada; chega outro grupo e
ocupa a mesa ao lado.
- Oii, chê,
donde vens? Somos de Passo Fundo.
- Chegamos
ontem de Rio Vermelho, diz o branquicela de bermudas, chinelo de dedo e
abanador; as crianças com o rosto manchado de vermelho devido ao calor; venho
pra comprar terras e me estabelecer. Esta é minha família, e apresenta a
mulher, sogra e filhos.
-
Não quer conhecer nossa gleba? Tem terra ao lado pra vender.
-
É pra já, diz o branquela.
O papo continua animado,
levantam e partem. Mais uma família com toda emoção no peito e a vontade de
conquistar, saem à busca da felicidade. È lindo!
O gerente comenta: mesmo
antes da escritura, montam rancho para economizar a despesa de hotel.
No dia anterior, no posto de
gasolina, nos falaram da fazenda da Brahma acima do Loroti; saí cedo, e fui ao
escritório da distribuidora; fomos recebidos pelo Roberto gerente da
agropecuária Capiaba, que nos convidou para posarmos na fazenda beira rio
Formoso; estava de partida pra Goiânia não podendo nos receber pessoalmente.
Que sorte! Um apoio deste não esperava. Nos despedimos agradecendo e saímos
felizes á procurar o Sherlock. Chegamos a uma sapataria pertencente à irmã
dele; Encontramos a irmã da Jandira esposa do Sherlock que contou que ele
vendera tudo que tinha em Gurupi e mudara-se com a família para o Maranhão onde
adquirira 3000 alqueires - um homem que está engrandecendo o Brasil; compramos
uma conga na sapataria Uberaba nome da cidade donde vieram.
Numa mesinha do bar Gurupi
montada na calçada, sentamos para cerveja e refrigerantes gelados a fim de
matar a sede; apesar de ser julho o calor seco, para nós minhocas, era acima do
costume; uma camionete encostou, saiu um
rapaz com chapéu aba larga, botas, empoeirado, queimado de sol, e no balcão
pede um red label com muito gelo; sorve seu wisky com prazer, entra na
camionete e continua sua vida.
O Joãozinho ficou na fila do
banco Itaú de chapéu, saímos e quando voltamos ele estava conversando com toda
familiaridade com um gaúcho enorme – se queres saber a conversa pergunte a ele.
Num outro bar, 3 vaqueiros
conversam entremeando o papo com martelinhos de drurys.
Uma sorveteria – entramos;
duas moças que nos servem são as donas do estabelecimento; contaram que saíram
de Minas vieram pra Gurupi fizeram empréstimo no banco montaram a sorveteria
que já está paga; se lá em Minas tivessem ficado, seriam no maximo balconistas
duma loja, morando que nem porco confinado num apartamento apertado; aqui
tinham casa própria com quintal e piscina .
Todos que para lá foram
estão realizados; neste querido Brasil trabalho é o que não falta, é só querer
trabalhar!
Um banho de água quente, o
refrigerado ligado, e eu matutava na cama:
Em 1962, quando pela
primeira vez em Gurupi cheguei, depois de um dia na carroceria dum caminhão
comendo poeira, fiquei no tal hotel com chuveiro em cima do cagador, a cidade
não passava de meia dúzia de casas pau a pique cobertas de palha.
em 1973, já posava na casa do Sherlock,
ladrilhada, espaçosa, limpa; era a melhor casa da cidade; saí num avião cesna
cujo piloto, o “comandante”, candidato a prefeito deu voltas por cima da cidade
jogando propaganda sua, enquanto sua mulher num carro com um auto-falante
pregava as virtudes do candidato.
Um tempo antes lá estive
levando a turma de Valença para pescaria e caçada no Loroti; havia já um
simples parque de exposições, que realizava uma; qual não foi a minha
surpresa ao sentar numa mesa encarar de
frente com o Murilo! Foi uma noitada
agradabilíssima de conversas relembrando os bons tempos passados; por muitas
vezes chegamos naquelas terras a fim de capar búfalos, apartar gado etc.; o
Vito Pentagna comprou dum peão do Sherlock uma anta criada na mamadeira que lá
estava a venda e trouxe para Valença. Na volta eu trouxe 11 filhotes de jacarés
que foram morar nos açudes da Vista Alegre. Os filhotes de ema com seu assovio
tristonho não agüentaram a viagem. As pescarias e caçadas no Loroti foram
ótimas; o Cirinho cozinheiro fez até biscoito, ele era meu companheiro de
pesca, enchíamos a canoa de tucunarés que eram devorados pela turma assados no
forno.
Partimos ao meio dia com
destino ao rio Formoso.
Uma estrada encascalhada nos levou até Dueré,
que já tem praça calçada, posto de gasolina, restaurante e casas de material;
tomamos um sorvete e seguimos com o mapa aberto para a Barra Longa, procurando
com atenção algum animal selvagem; só emas. Uma água fresquinha, um café, e
cortando belíssima região de puro campo por caminhos contorcidos por desviar
duma lagoinha dum tufo de arvores ou palmeiras alcançamos o Formoso e atolamos
num areal – percorríamos terras do bom índio Curumaré. No trabalho de desatolar
palmo a palmo, ouvimos barulho de carro – era a policia que de toiota vinha no
nosso rastro pensando que éramos pescadores clandestinos; com a ajuda dos dois
soldados nos safamos e fomos armar acampamento na companhia deles bem no lugar
que pela primeira vez lá estive.
Que sensação! No mesmo ponto
que atravessávamos a vau, tinha uma balsa ligando as duas margens, e por baixo
da arvore que conheci vinte e tantos anos antes um rancho que para meu espanto
era do Milton antigo gerente do Loroti após Sherlock, caçador de pirarucu; com
o movimento veio de canoa a nosso encontro, e surpreso ficou quando me
apresentei; falou pouco, pois receava a policia porque um filho seu estava na
caça do pirarucu nas lagoas do lado de lá; disse para irmos ao seu rancho, mas
sem a policia.
Barraca montada ao lado da
deles, lampião posicionado, uma água esquentando para uma sopa que foi servida
juntamente com o feijão tropeiro deles. Dudu na barraca João na rede apagaram,
eu e Zé fomos no nosso barco conversar com o Milton que logo foi dormir;
subimos o rio jogando nossas linhadas, e só veio um tracajá no anzol do Zé,
fisgado pelo pescoço; as 11 horas nos recolhemos pra dormir, eu na rede e Zé na
barraca com Dudu.
Aconchegado na rede me
lembrei da ultima vez que vira o Milton – com Pilinha fui a uma lagoa onde ele
e dois filhos pescavam o pirarucu; eram mantas e mais mantas do “rei do rio”
salgadas e estiradas em varais improvisados; quatro grandes pescados naquela
noite estavam sendo destrinchados para a salga; foi um espetáculo inesquecível.
Milton construiu casa em Gurupi os filhos também, compraram caminhão e fez
poupança com o pirarucu; já não era mais gerente do Loroti, mas permitiram que
ele pescasse. Finalmente dormi.
Dia 25. Cedinho levantamos,
e para surpresa nossa, eu e Zé estávamos pintados de ferroada de mosquito pium,
as crianças não; um café com os policiais e desmanchar acampamento.
Os policias efetuam um
trabalho heróico; com toiota barraca e coragem vão apreendendo as redes
devastadoras; no carro já tinham algumas e iam a busca de outras; em Gurupi
foram avisados que um grupo de profissionais pescava no lago Loroti e para lá
se dirigiram; estes profissionais passam a rede num lago devastando
assustadoramente, arrastam a rede de fora a fora, não sobra nada.
Neste mesmo lugar, a ultima
vez que lá estive, à tardinha matei quatro moleques que foram comidos no
jantar; dezenas de jaós cantavam sua monótona melodia, jacus açus esvoaçavam
nas copas das arvores, araras aos pares voavam baixo, a noite ouvíamos os
peixes malharem na água. Desta vez só urubus! Nem um peixe só piranhas, um ou
outro jaó.
Acima do porto, dois
acampamentos com geladeira e tudo, barcos com motores, homens pescando; um
deles contou que tinha carne de duas antas no congelador que mataram num lago
dentro da fazenda.
Tudo pronto, deixamos o carro
num ponto visível para o Milton e embicamos para o barraco; um porco meio
selvagem estava sendo capado, o que foi novidade para as crianças; muita
conversa lembrando os tempos idos, um café com bolinho frito, e, finalmente, lá
pelas 10 horas partimos do porto rumando para a fazenda da Brahma rio abaixo.
Íamos felizes, alegres e
satisfeitos por estarmos remando no barco construído com tanto carinho; era o
sonho Curumaré se realizando.
Nas curvas as praias de
areia branca, pelas margens umas arvores cujas flores amarelas caiam na água e
eram comidas por pequenos peixes; pela uma hora paramos para um leite com
Nescau; aproveitamos e matamos um jacu cigana para fazer iscas; só piranha.
Num dos arremessos que
efetuei com a varinha de molinete, fiquei gelado – a garateia fisgou o rosto do
Dudu dois dedos abaixo do olho; graças a Deus nada de ruim.
Já eram umas 4 horas e nada
da fazenda; estávamos prontos para armar acampamento numa bela praia comprida
quando ouvimos barulho de motor; uns pescadores disseram que mais duas curvas e
chegaríamos lá; seguimos, passamos a entrada dum lago, e adiante, pela margem
esquerda, num barranco alto divisamos as construções. Remáramos cerca de 30 kilomrtos.
Embicamos no porto, e logo
um caboclo simpático e risonho nos recebeu; nos apresentamos dizendo que éramos
convidados do Roberto, e para nossa surpresa Valdete nos acomodou num quarto
telado com boas camas e banheiro de água quente; era nossa idéia armar barraca,
mas, diante de tanta gentileza aceitamos, e posso garantir que foi bem
melhor!
Nos acercaram 5 crianças
filhos do Valdete que nos ajudaram a levar a tralha barranco a cima. Tudo
arrumado no quarto, banho tomado, e outra surpresa – já escurecia quando
ouvimos o barulho dum motor – veio a luz, tudo iluminado; fomos levados para
outra casa onde nos serviram um jantar com arroz e ensopado de tartaruga regado
a limonada; eu num podia acreditar; conversamos com o pessoal na varanda da
casa do Valdete; só aí é que percebemos que as mordidas dos mosquitos tinham
inflamado.
Naquela noite, no nosso
destino, estirados em camas com colchão e lençol, banheiro com água corrente ao
lado, aí sim os jaós cantando, depois dum dia de boa remada, barriga cheia,
dormimos profundamente sonhando com esta aventura tão esperada, tão relatada na
nossa cama lá em Petrópolis a 2200 kilometros distante. Curumaré deve ter vindo
nos fazer companhia.
Dia 26 - Foi um dia de
reconhecimento conhecendo as instalações da fazenda.
O Valdete é um goiano como
todos os outros funcionários, da mesma
idade do Zé, com nove filhos 8 morando com ele; uma é professora da escola,
outro é tratorista, uma filha cuida da casa do gerente, 5 em escadinha até 13
anos; mantem o bigode pretinho.
São 10 casas muito boas com
água encanada, luz e banheiro completo; dois grandes galpões para oficina,
almoxarifado, garagem; paiol e carpintaria etc. tudo de madeira serrada lá
mesmo, radio ligado ao escritório de Gurupi, avião semanal.
Muito diferente do Loroti
que tinha barracos de meia parede pau a pique cobertos de folhas de babaçu chão
de terra batida, sem água encanada nem luz; o banheiro era o mato e um cubículo
fechado com a tradicional lata de querosene furadinha por chuveiro só para as
mulheres, pois os homens se banhavam no lago. A comunicação com Gurupi era o
cavalo e nas cheias o barco.
Sherlock, quando o jacaré
matou seu filhinho na porta de casa, remou uns 100 kilometros para enterrá-lo
no Gurupi.
O que não podemos nunca
esquecer é que para que as grandes empresas lá se estabelecerem, ANTES, os pioneiros como
Sherlock e Milton desbravaram a região ocupada por índios, milhares de jacarés
imensos e onças em quantidade que
provocavam um estrago no rebanho bovino.
Graças a esses destemidos e
heróicos homens o progresso lá chegou.
Dos 5 000 alqueires, 200 estão plantados de arroz e
o restante é campo natural onde vagueiam umas rezes ao Deus dará; eles têm
projeto de uma grande plantação de limões que seriam usados pela Brahma;
Um curral modesto de taboas
locais, uma serraria bem montada para uso próprio.
Fomos ao curral distante da
sede uns dois kilometros e beira rio, onde as crianças se divertiram atirando
de 22 nas pombas verdadeiras que depois de se saciarem na palhada do arrozal
revoavam posando nas copas das arvores; brincaram também no curral com os
bezerros.
Me lembro da grande
curralama do Loroti, beirando o rio Javaés, construída de grossos paus em pé um
ao lado do outro forte bastante para agüentar o tranco dos búfalos; matei muita
pomba no vôo que passavam baixo por cima do curral e quando caiam no chão
levantavam poeira.
Por baixo da barranca numa
pequenina praia onde os peixes são destrinchados as crianças pescaram de varinha uns
pacusinhos que fritos são uma delicia.
Reparamos que os cascos de
tartaruga são utilizados para farinheiras, fruteiras, enfeite, enfim, tigelas
de muitos usos.
Os comunistas estão
atucanando aquele povo dizendo que eles tem direito a um pedaço de terra; o que
fariam eles sem o apoio da Brahma? Na empresa eles desfrutam das boas
instalações, da luz, água encanada, radio com Gurupi, avião, recebendo salário,
educação, assistência medica.
A tardinha, depois de um
banho, no refeitório a filha do Valdete ofereceu um jantar farto com pirarucu
no molho de leite de coco, que estava conservado no freezer; eles teriam estas
boas coisas sem a força da Brahma?
Malditos PT e PDT que querem
implantar o caos!
O por do sol sobre o Formoso, os João Pinto amarelos
e pretos que lembram até no canto o Corrupião se ajeitando para dormir nos seus
ninhos dependurados nos altos galhos da arvore beira rio, os jaós cantando o
“eu sou jaó”, o gostoso ar seco e quente, a sensação de liberdade, o cansaço
dum dia movimentado, o bem estar produzido pelo banho e pela boa refeição, a
expectativa do dia seguinte, tudo isto nos levou a um sono que, penso eu, as
crianças não gozaram antes. E com a sensação de estar cumprindo o dever de pai
deixei-me levar por um sono tranqüilo agradecendo a Deus tamanho
privilegio.
Dia 27 – acordei muito cedo
para ouvir os jaós; fui até beira rio, o sol nascente esplendoroso, um ar frio
seco gostoso leve impregnado de emanações florais, os João Pinto
preguiçosamente se mexendo em seus ninhos. Quieto, com os pulmões cheios
daquele ar puro e fresco, fiquei assistindo o sol alaranjado ir se levantando
sobre o rio; era realmente um rio Formoso! Alguém se aproxima, era Joãosinho;
ficamos ali os dois, silenciosos, na companhia de Curumaré; não se pensava, não
se conversava, a visão real daquilo que tanto sonhamos em Petrópolis conduzia
nossas mentes a um devaneio tranqüilizante.
Neste dia, fomos todos de
trator até o lago do meio cujo sangradouro nesta época está seco; a viagem numa
carreta de dois eixos, estradinha de gado, pulava mais que jeep; o lago é
grande comprido, em forma de lua crescente; lá ficamos tentando um tucunaré,
mas só veio a irritante piranha; na altura do sangradouro o Formoso forma uma
belíssima praia donde foram pescadas mais piranhas; na hora da volta, para
surpresa nossa, o trator não estava lá; um cavaleiro chegou galopando, e contou
que na balsa do Milton, um caminhão que vinha de Gurupi com um trator na
carroceria, desequilibrou-se e caiu na água; vieram apressados buscar nosso
trator para içar os náufragos; uma avoadeira vinha nos buscar; não tardou e o
espocar do motor denunciou o barco; voltamos pelo rio num belo passeio.
Na fazenda, o resto do dia
foi de muita tenção; todos apreensivos com o ocorrido e amedrontados com as
conseqüências; pelo radio conversaram com Gurupi, foram repreendidos, mas no
fim acalmaram-se com a chegada da noticia que o trator já estava em terra
firme.
Dia 28 – o trator afogado
chegou rebocado e imediatamente começou a ser operado; o caminhão não conseguiu
sair e estavam esperando um trator de esteira que vinha de Gurupi.
Aproveitamos a manhã para ir
até um sitio onde mora a mãe do Valdete; uma casa de material muito boa e um
pomar de limas da Pérsia rosas e amarelas; tinha sido construída pelo Sherlock
que lá morou; quando o Loroti foi vendido, ali na divisa tinha 200 alqueires
com posseiros, que foram dados ao Sherlock; este deu sumiço nos posseiros,
ocupou, formou, construiu e mais tarde vendeu para a Brahma.
Haá! Que delicia! Na
varanda, canivete em punho, nos refrescamos com as imensas limas rosas graças
ao Sherlock.
A tarde, fomos de carro até
o outro lado da fazenda onde tem um rancho beirando o rio Loroti moradia do
funcionário Mauricio e família; iríamos dormir lá para pescar de manhã.
Este rio já era meu
conhecido na parte de baixo, onde o tucunaré era lixo; foi ele que deu origem ao
nome da fazenda; nasce em suas terras
numa região de mata virgem onde moravam os cara-pretas primos e inimigos dos
javaés do lugar; quando havia confronto os da mata pintavam o rosto de preto e
atacavam os primos ao cair da noite; sei desta estória pois quando num domingo
eu e Murilo passeávamos de canoa com um índio e nas beiradas da mata preta
chegamos, o índio de nome Curumaré, que virou meu amigo, não quis seguir em
frente; foi neste passeio que já escuro a anta assustada pulou do barranco para
a água a um metro de nós que ficamos bem molhados; um tremendo susto nosso
também; Curumaré remou das sete da manhã as sete da noite e não demonstrou
cansaço; a lua crescente clareava palidamente as águas onde ao passarmos os
peixes pulavam fora dagua assustados e alguns caíram dentro da canoa; os
pirarucus malhavam nagua provocando barulho semelhante a um tiro de 38; as
varas de capivaras estiradas gostosamente nas praias nos observavam sem medo.
Um dia, Curumaré, que
confiava em mim, contou que um índio roubara uma de suas esposas e fugira com
ela; ele negaceou por uma semana até encontrá-los, matou o raptor e trouxe a
mulher de volta para casa. Curumaré tinha paixão por carne de pato, saia com a
minha 22 e era raro não voltar com pelo menos um abatido à tardinha quando
empoleirado na arvore beira rio para dormir. O forte do alimento desses índios
era o jaraqui que quando gorgulham na superfície em grupos são flechados, e o
pirarucu que é arpoado.
Outra vez avistei da canoa
uma imensa onça pintada no alto da barranca que quando nos avistou
espreguiçou-se e saiu devagar com a pança quase arrastando no chão por estar
cheia do bezerro que matara e comera.Foi dessa vez que quando ia atirar a
queima roupa na anta que estava no saleiro a lanterna caiu no barco, apagou, o
que a espantou e num pulo para a água atravessou o rio subindo barulhentamente
na outra margem. Armada a rede no alto da arvore entre dois galhos, fiquei lá
sentado a espera dos bichos chegarem para comer as frutas da mirindiba caídas
no chão; um veadinho e uma paca se estrebucharam com os tiros iluminados pela
lanterna presa por baixo da cartucheira;
ouvi também se achegarem outros bichos porem fora da visão.
Outra vez oito patos
passaram voando baixo e posaram numa curva do rio; saltei para a terra e
caminhei sem barulho para alem deles; o Murilo seguiu de barco espantando-os;
naquela noite o jantar foi os dois patolas que derrubei.
E os bandos de capivaras que
atravessavam o lago? E as centenas de olhos de fogo dos jacarés alumiados pelo
facho da lanterna?
Nas lagoas, maguaris, socó
bois, megulhões, garças, colereiros avermelhados e não sei mais o que,
levantavam vôo a nossa passagem num gritalhar desconexo.
Araras de todas as cores
vinham dormir nos babaçus ao redor das casas assim como as curicácas.
Passados uns 20 anos estava
eu lá de novo com meus filhos - a meia
dúzia de jaós cantando os satisfizeram, pois não presenciaram o que eu assisti.
Valeu.
Chegamos no Mauricio já a
tardinha, apresentação ao rio, uns tucunarés fritos, papo com todos; armamos as
redes, Dudu e Joãozinho apagaram, e eu e
Zé tomamos o barco e fomos
tentear um peixe; as iscas mal caiam na água e as piranhas atacavam; tenteamos
nas praias e nos fundos, nada; saltamos numa praia que parecia uma ilha formada
por um vazadouro de uma lagoa; volteamos e no outro lado um remanso escurecido
pela sombra das arvores que tapavam a
luz da lua nascendo; de repente uma barulheira danada dentro dagua – São os
búfalos selvagens, disse eu. E mais que depressa voltamos para nosso barco;
nada agradável, naquela solidão, sermos vitimas dum bufalino raivoso
remanescente dos tempos do velho Pilades; na volta, o Zé na proa da canoa, o ar
vindo pro meu lado na popa estava impregnado com cheiro de merda; fiquei
satisfeito quando me aconcheguei na rede.
Dia 29 – pescamos 44
tucunarés até as 13 horas.
Joãozinho, cançado, dormiu
no carro e custou a acordar; Mauricio tinha umas vacas o que nos proporcionou
um leite fresquinho que com Nescau nos despertou; jaós cantavam.
Saímos todos num barco só,
duas varas com molinetes e linhadas de mão, um remo na popa; lançávamos as
iscas de postas de peixe em forma de bandeirinha bem dentro da galhada submersa
onde se amoitavam os tucunarés; subimos o rio vagarosamente a distancia da
margem de arremesso leve, passamos a divisa e entramos na fazenda Loroti;
algumas garças, os desajeitados jacus ciganas, Zé atirou nuns patos posados na
água em frente; encontramos um barco com um senhor pescando também; era do
Loroti e estava satisfeito com a pescaria; voltamos pela outra margem,
conversando fiado, brincando, e de vez em quando um tucunaré no fundo do barco;
o Mauricio foi quem pescou mais devido a sua pratica.
Já no rancho, os peixes
foram preparados para a salga, uns fritos, outros levados para a sede. Valeu o
passeio. As despedidas costumeiras, tudo arrumado no caravan, partimos.
Mauricio ficou com meu escamador.
Na vinda, tínhamos
encontrado um jaburu de asa quebrada que não podia voar; agora estava ele no
caminho cercado pelos dois lados; aceleramos até chegarmos bem atrás dele que
corria desengonçado; emparelhamos e Dudu passou a mão nele; foi uma farra.
Jantamos tucunaré servido
com alcaparras. Que vida!
Dia 30 – Domingo
Enquanto o Zé foi levar as
duas filhas do Valdete para visitar a avó no sitio do Sherlock e trazer limas,
saímos no nosso barco pelo Formoso a cima.
Inventamos uma brincadeira –
o dardo da espingarda de caça submarina foi improvisado de fisga; uma das
crianças ia com ela, em pé no espelho da proa; nós outros íamos remando bem
junto à praia, onde no raso, as arraias de fogo se escondiam cobertas de
areias, mas denunciando sua presença pelos olhos a descoberto; quando eram
reconhecidas, uma vigorosa fisgada se dava no seu lombo; apavoradas, nadavam
para águas mais fundas puchando o barco e se assentando na lama; só saiam
quando já sem forças deixavam-se arrastar. Fisgamos algumas entre as quais uma
de mais de metro no diâmetro; seus ferrões eram decepados pelo facão. Lá se tem
mais medo de arraia que de piranha; só o corrimento de boceta mestruada alivia
a dor da ferroada; nós tínhamos spray de xilocaina.
Numa praia comprida, onde os
talha-mares tinham seus ninhos e zangadissimos davam vôos rasantes sobre nossas
cabeças estrilhando e tentando uma bicada como a dizer que não nos
intrometêssemos nos seus domínios, os meninos localizaram rastros de tartarugas
e dois ninhos cheios de ovos - foi uma sensação desenterrá-los; alguns deles
foram levados para casa.
Na volta, numa praia donde
se pescava piranhas que eram deixadas na areia e sumiam, pescamos outras, uma
das quais foi iscada com um bruto anzol do Valdete armado na forte linhada da
fisga que se prendeu numa arvore flexível.
À tardinha, eu já banhado
passeava pelos arredores enquanto eles jogavam futebol com a moçada; sentei-me
numa sombra, me estasiando com a revoada das grandes pombas verdadeiras,
chupando umas limas, ouvindo os jaós entoarem seu canto mavioso, apreciando o
ocaso magnífico, fiquei a matutar – meus filhos estavam realizando algo que
poucos podem entender; estava feliz.
Dia31 – Partimos
Um grande jacaré estava preso no anzol deixado
de espera; as crianças foram lá ver, e não tendo conseguido içá-lo voltaram a
me chamar; o galho retesado mantinha a linha esticada para dentro do rio;
amarramos o cabo no barco e com muita dificuldade fomos remando atravessando o
Formoso; depois de muito custo, muita gritaria das crianças chegamos no porto.
Içamos o bruto para terra firme, vivo, cansado, com seus 3 metros. Foi uma
farra! Uma bala 22 deu fim ao grandalhão que foi içado numa arvore,
fotografado, e destrinchado; a carne do rabo chegou até aqui que foi preparado
para regalo da vô Luluta.
Na noite anterior realizamos
também uma boa farra; íamos com a lanterna focalizando rés ao barranco e vários
olhos pequeninos de jacarezinhos ofuscados brilharam com a luz; com rapidez as
crianças seguravam-nos pelo pescoço; dois deles foram dormir num tanque da
sede. Agora, na partida, Joãozinho foi soltá-los no seu habitat; esperamos que
creçam, procriem e devorem piranhas seu prato favorito.
Quando Sherlock matou quatro
mil jacarés no lago beirando sua casa, depois que seu filhinho foi morto por um
monstrengo, jacaré era praga. Agora é necessário permitir que eles procriem
para o equilíbrio de piranhas.
Tudo pronto – barco na
carreta, tralhas acomodadas, despedimo-nos daquela boa gente e partimos.
No caminho o trator vinha
rebocando o caminhão afogado. Chegamos no Milton, um trator de esteira laminava
o outro lado para melhorar a subida o que nos deu tempo para papear, e finalmente,
atravessamos o Formoso na balsa, bem diferente quando a 25 anos passados
atravessei de jeep no vau.
Para traz ficou um pedaço
deste querido Brasil onde o sonho Curumaré fora realizado nos divertindo a
béssa.
28 kilometros, uma hora de viagem, chegamos na
Barra Longa onde dois esteiras e um correntão também chegaram; iam limpar
terreno para plantio de soja. Mais 40 kilometros percorridos em 70 minutos e
Duere; mais 57 kilometros e Gurupi apareceu, também depois de uma hora de
viagem.
Fomos para o mesmo Palace
Hotel, ocupamos o quarto 3, e depois dum bom banho, da novela do sinhozinho
Malta, fomos a pizaria do chinez para uma merecida cerveja gelada e muita piza.
Antes passamos no escritório da Brahma para agradecer ao Roberto.
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Dia seguinte, cedinho,
deixamos a carreta com o barco no lavador, e seguimos para a cidade Formoso do
Araguaia, para conhecermos o gigantesco projeto de irrigação que o Valadão
implantou. São duas cooperativas, a Coop. Formoso formada por gente do sul, e a
Javaés dos goianos.
Depois das costumeiras
apresentações, o presidente duma delas nos cedeu um funcionário que nos mostrou
todo o projeto desde a captação de água do rio Formoso atravez de bombas
hidráulicas até os canais principais, secundários e os propriamente
irrigadores. Vimos arroz e soja bem desenvolvidos, muita marrequinha, bandos de
emas, garças e colereiros, o campo de aviação onde estacionam os aviões
agrícolas, e maquinas próprias para o terreno.
Bem, mas uma instrutiva
novidade, retornamos a Gurupi, o caravan ficou no posto para um merecido banho,
e assim termina esta estória verdadeira, pois a volta não vou contar.
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A fazenda Barra Longa, que
pertenceu a um Pazanezi hoje é dum grupo
de Santa Catarina se não estou enganado, que tem plantação de maças e
fabrica de adubos. São 15 mil hectares onde pretendem plantar soja. São proprietários
de outra fazenda com 45 tratores parte deles sendo transferida para lá. Como a
propriedade é passagem de boiadas com destino a ilha de Bananal, estão
construindo uma estrada cercada de jeito que as reses não danifiquem a lavoura
de soja. Vai dar problema.
A fazenda Loroti foi
comprada pelo Fernando Sampaio dum filho bastardo do Antonio Prado, um maluco
que, se julgava Tom Mix e andava a lá cow boy todo de preto com um 38 na cinta
e só ia para a fazenda de avião levando desde arame para cerca até milho para
as galinhas, mantinha na sede de chão de terra batida e meia parede, poltronas
de couro, bons livros e musica clássica, e importou uma belíssima cachorrada de
caçadores de veado que eu conheci alguns originais. Fernando constituiu a
Estância Três Corações Limitada com tio Alberto e Bentoca, com mais a fazenda
da Sibéria em Ceres onde deveria ser recriada a bezerrada vinda do Loroti. O Pilades recebeu dez por
cento da empresa para ajudá-lo. Fernando comprou um imenso jeep que andava até
de baixo dagua, mas que não atendeu a velocidade que pretendia imprimir ao
negocio; pediu um avião sem o qual
desacoçoaria e como não foi atendido saiu fora. Pilades e tio Riri compraram
tudo, e depois o Pilades ficou dono sozinho. Mais tarde, o Tatá sócio do
frigorífico Guapeva, dono de oitenta mil vacas, recebeu a fazenda em troca duma
divida de seis mil bois do Eduardo que comprara do Pilades, e, com o Milton na
gerencia construiu sede de material com nove quartos, bons currais, aumentou o
campo de aviação. Chegaram a cinco mil búfalos que foram depois substituídos
por vacas nelores.